"Só uso a palavra para compor meus silêncios"

Manoel de Barros


Eu só tenho usado o silêncio para compor os meus gritos...


Este é pura e simplesmente um espaço na mídia para divulgar meus poemas, contos, crônicas e artigos de opinião, bem como dos meus mestres e mestras da Filosofia e ARTES de um modo geral. Amo ESCREVER, acima de todas as coisas, então faço desse espaço o meu "grito de alerta", sem maiores pretensões...mas sempre com muitas provocações, pois fazem-se necessárias para que não sigamos mansos a trilha da manada direto para o matadouro... Apesar de todas as decepções, eu AINDA creio e amo o ser humano, então vamos lutar todos juntos em UNICIDADE, AMOR E FRATERNIDADE.

domingo, 28 de novembro de 2010

ASAS NO TRAPÉZIO


Adjetivos tiram toda a graça da farsa
da manguaça gostosa
borracheira cheirosa
insana e ardente
trinca os dentes
e nos torna serpentes
sem libido no veneno
que nos faça amanhecer
nus na praça.
Quero o substantivo completo
Pagão e dileto
Sem manipulação ou maus-tratos.
Liberdade é meu hino
Livre arbítrio meu destino
Consciência da Unicidade
Para me restituir
O que me foi usurpado
deixei de ser e
entreguei de graça
Ao dono do Circo
O palhaço
De chicote em punho
Trapezista tornei-me na marra!
Vivo Com medo
de cair das alturas
Só por não lembrar
Que já nasci com asas.


Lou Albergaria
in O Cogumelo que Nasce na bosta da Vaca Profana

quarta-feira, 10 de novembro de 2010

BATOM CARMIM


Ruge a tarde
insurge
seu batom
na luz neon
o véu cai
dança mil tons
os sons
teus lábios
perdem a paz
carmim Carmen
castanhola voraz
não sei mais
Onde por ventura em mim
a Menina restou.


Lou Albergaria

quinta-feira, 7 de outubro de 2010

MAIS UMA ESTAÇÃO


Seus versos me chamam

eu me rendo

a rima é curta

a vida tão breve

o amor em seu leito de morte

derrama folhas secas ao vento

não mais semente

acabou a sorte

na estação aguardo

a partida do próximo trem

Em mais uma primavera
Devassa.

quinta-feira, 30 de setembro de 2010

O AMOR FERE


O amor deita no peito
faz nascer medo, anseio
descortina o Mundo
sujeito a dar defeito
agora não tem mais jeito
a tempestade inunda
toma conta
atiça, afronta
desmorona o Muro
cadê teus olhos nessa pele virgem
guardada imaculada, imantada
no veneno que me faz viver
o desejo que te sonha, busca
trepida enclausurado
nos versos adúlteros
que me joga na cara
cospe no véu
despe a fome que tenho de ti.
O Anjo Vingador também é traiçoeiro
Ama tão somente como os poetas amam:
Ele só ama o Amor
E o desespero de jamais encontrá-lo com vida.


Lou Albergaria

domingo, 26 de setembro de 2010

VINO MORAIS


Seu talento de artista
abraça minh'alma de poeta
enlaço-te em beijos infinitos
Sonho-te de olhos abertos...


Lou Albergaria


Minha poesia busca as areias nas telas do Vino. Sinto meus versos em absoluta simbiose com suas cores, sombras e luzes. Sem sua grande arte minha poesia não seria a mesma.Obrigada, Meu artista! Super beijo!!!

sábado, 25 de setembro de 2010

O PÓ QUE EU SOU...


Pó soprado ao vento
alimenta a Semente
que é meu sustento.
O amor no ventre
não me deixa só...


Lou Albergaria
Tela: Vino Morais

quinta-feira, 23 de setembro de 2010

HAIKAIS E QUE TAIS...


Coração vago
a sombra no abismo
na alma chove.

***
Leão faminto
sem pássaros na alma
poeta morre.

***

Menina sonha
o abrigo que não vem
na noite fria.

***
Frio na alma
poesia que eu sou
morte súbita.

***

Semente parte
a vida pelo meio
solidão nasce.

***

Língua Aduba
o canteiro floresce
beijos úmidos.

***

Novelo de lã
tece sonhos, menina,
que morrem nesse frio.

***
Concha se fecha,
O som da angústia
aprisiona.

***

Sorriso breve
tênue armadura
soterra a alma.

***

vago(O)risco
perco toda palavra
que não é amor.

***

O sol se cansa
(entre)linhas escuras
neve me(dita).

***

Noite sombria
o sol pede abrigo
nas cores simples.

***

Filha da Noite
Lua de fel suspira
tempo que arde.

***

Cai densa sombra
no silêncio eu sou
flor que fecunda..

***

As negras asas
sopram ternas sementes
o poeta nasce.

***

O mar agita
pássaro se revolta
o poeta morre.

***

Poesia vil,
o espinho que cala
sentimento nú.

***

Na noite que ri
primavera encanta
feia verdade.

***
Torpes amores
não mais me cicatrizam
coração sangra.

***

Sonho contigo
folhas caem da alma
eu resuscito.

***

Lou Albergaria

quarta-feira, 22 de setembro de 2010

SOL DE PRIMAVERA - BETO GUEDES




"A lição sabemos de cor só nos resta aprender..."




Quando entrar setembro
E a boa nova andar nos campos
Quero ver brotar o perdão
Onde a gente plantou
Juntos outra vez...

Já sonhamos juntos
Semeando as canções no vento
Quero ver crescer nossa voz
No que falta sonhar...

Já choramos muito
Muitos se perderam no caminho
Mesmo assim não custa inventar
Uma nova canção
Que venha nos trazer...

Sol de primavera
Abre as janelas do meu peito
A lição sabemos de cor
Só nos resta aprender
Aprender...

Já choramos muito
Muitos se perderam no caminho
Mesmo assim não custa inventar
Uma nova canção
Que venha trazer...

Sol de primavera
Abre as janelas do meu peito
A lição sabemos de cór
Só nos resta aprender
Aprender...


Beto Guedes

Tela: Olaf Hajek

terça-feira, 21 de setembro de 2010

17 DE OUTUBRO


O poema prometido
escorre-me da alma
até a ponta dos dedos
que me molham
com o eco dos seus sonhos.
Fecho os olhos e seu sorriso
Me toma, doma
fazendo-me lembrar daquele dia
em que entrou aqui pela primeira vez
E de costas nuas disse-me:
- Vou seguir você!

Desde então, toda vez que escapa,
só preciso procurar dentro de mim
que sempre O encontro.
Lou Albergaria

domingo, 19 de setembro de 2010

BORBOLETAS BRINCAM NA LUZ


Borboletas seguem seu rastro de luz

...ainda que haja sombras,

sua alma ilumina...


Lou Albergaria

quinta-feira, 16 de setembro de 2010

PÁSSARO NEGRO


Pássaro caminho de Luz

nas trevas de tuas Asas

grita, agoniza em luto

coleriza-se, insulta

a mulher que te sonha

e Necessita.

O Perdão é minha Fortaleza!

Um dia reconhecerás

que sua Guerra de Insanidade

só esmorece o rastro de Amor

em Mim

que já carrega teu Nome.


Lou Albergaria
Foto: br.Olhares.com

sábado, 11 de setembro de 2010

O VENTO HOJE ME RENASCE...

Rosa dos Ventos
Vira-me AO avesso
Torna-me o Eu do começo
a História Ainda sem enredo
Só encantamento
Pura Inocência
um Sopro, um alento
Promessa de Vida no ar ...


Lou Albergaria

IDEAIS


Os outros meninos, um queria ser médico, outro pirata,

outro engenheiro, ou advogado, ou general.

Eu queria ser um pajem medieval... Mas isso não é nada.

Hoje eu queria ser uma coisa mais louca: eu queria ser eu mesmo!


Mário Quintana
Tela: Vino Morais

quinta-feira, 9 de setembro de 2010

MEU AMIGO


Meu Amigo, não sou o que pareço. O que pareço é apenas uma vestimenta cuidadosamente tecida, que me protege de tuas perguntas e te protege da minha negligência.
Meu Amigo, o Eu em mim mora na casa do silêncio, e lá dentro permanecerá para sempre, despercebido, inalcançável.
Não queria que acreditasses no que digo nem confiasses no que faço – pois minhas palavras são teus próprios pensamentos em articulação e meus feitos, tuas próprias esperanças em ação.
Quando dizes: “O vento sopra do leste”, eu digo: “Sim, sopra mesmo do leste”, pois não queria que soubesses que minha mente não mora no vento, mas no mar.
Não podes compreender meus pensamentos, filhos do mar, nem eu gostaria que compreendesses. Gostaria de estar sozinho no mar.
Quando é dia contigo, meu Amigo, é noite comigo. Contudo, mesmo assim falo do meio-dia que dança sobre os montes e da sombra de púrpura que se insinua através do vale: porque não podes ouvir as canções de minhas trevas nem ver minhas asas batendo contra as estrelas – e eu prefiro que não ouças nem vejas. Gostaria de ficar a sós com a noite.
Quando ascendes a teu Céu, eu desço ao meu Inferno – mesmo então chamas-me através do abismo intransponível, “Meu Amigo, Meu Companheiro, Meu Camarada”, e eu te respondo: “Meu Amigo, Meu Companheiro, Meu Camarada” – porque não gostaria que visses meu Inferno. A chama queimaria teus olhos, e a fumaça encheria tuas narinas. E amo demais meu Inferno para querer que o visites. Prefiro ficar sozinho no Inferno.
Amas a Verdade, e a Beleza, e a Retidão. E eu, por tua causa, digo que é bom e decente amar essas coisas. Mas, no meu coração rio-me de teu amor. Mas não gostaria que visses meu riso. Gostaria de rir sozinho.
Meu Amigo, tu és bom e cauteloso e sábio. Tu és perfeito – e eu também, falo contigo sábia e cautelosamente. E, entretanto, sou louco. Porém mascaro minha loucura. Prefiro ser louco sozinho:
Meu Amigo, tu não és meu Amigo, mas como te farei compreender? Meu caminho não é o teu caminho. Contudo juntos marchamos, de mãos dadas.


(Gibran Khalil Gibran in Excertos de “O Louco”)
Fotografia: Paul Mahder
Ofereço esse texto a todos meus amigos e em especial ao Justiceiro Rz. Desculpa, menino! Pensamos diferente, mas a Poesia e Amizade em meu coração continuam intactas. Beijo!!!

terça-feira, 7 de setembro de 2010

AMOR EM SILÊNCIO


O Olhar grita

o Amor que se faz

Sem uma palavra derramar.


Lou Albergaria

O SOMBRERO


Dispo-Me

desta tua Pele

que Me arruína

Faz o indulgente

indigente

A Morte anuncia

Promessa de Vida não Cumprida

A Fantasia se rasga

em Milhões de rodopios

Cadafalso

esmaga o Verso

Morre de Asfixia

Hoje não te Mereço

Entrego-te sem colocar preço

O Delírio

tornou-se por demais Sombrio
Restou-me pouco Sol

para o largo Sombrero.


Lou Albergaria

sexta-feira, 3 de setembro de 2010

O OTÁRIO SUBLIME


Jogo Malogrado

Faz O Sublime, Otário

Eu passo.
Tela: Olaf Hajek

segunda-feira, 23 de agosto de 2010

O POETA E O ABISMO...


Quando acordas no meu sonho,

perco o medo do abismo

Você desvela o Meu Mundo.

domingo, 22 de agosto de 2010

HORA ABSURDA



O TEU SILÊNCIO é uma nau com tôdas as velas pandas...
Brandas, as brisas brincam nas flâmulas, teu sorriso...
E o teu sorriso no teu silêncio é as escadas e as andas
Com que me finjo mais alto e ao pé de qualquer paraiso...

Meu coração é uma ânfora que cai e que se parte...
O teu silêncio recolhe-o e guarda-o, partido, a um canto...
Minha idéia de ti é um cadáver que o mar traz à praia..., e
entanto
Tu és a tela irreal em que erro em côr a minha arte...

Abre tôdas as portas e que o vento varra a idéia
Que temos de que um fumo perfuma de ócio os salões...
Minha alma é uma caverna enchida p'la maré cheia,
E a minha idéia de te sonhar uma caravana de histriões...

Chove ouro baço, mas não no lá-fora...É em mim...Sou a Hora,
E a Hora é de assombros e tôda ela escombros dela...
Na minha atenção há uma viúva pobre que nunca chora...
No meu céu interior nunca houve uma única estrela...

Hoje o céu é pesado como a idéia de nunca chegar a um pôrto...
A chuva miúda é vazia...A Hora sabe a ter sido...
Não haver qualquer coisa como leitos para as naus!...Absorto
Em se alhear de si, teu olhar é uma praga sem sentido...

Tôdas as minhas horas são feitas de jaspe negro,
Minhas ânsias tôdas talhadas num mármore que não há,
Não é alegria nem dor esta dor com que me alegro,
E a minha bondade inversa não é nem boa nem má...

Os feixes dos lictores abriram-se à beira dos caminhos...
Os pendões das vitórias medievais nem chegaram às cruzadas...
Puseram in-fólios úteis entre as pedras das barricadas...
E a erva cresceu nas vias férreas com viços daninhos...

Ah, como esta hora é velha!... E tôdas as naus partiram!
Na praia só um cabo morto e uns restos de vela falam
De longe, das horas do Sul, de onde os nossos sonhos tiram
Aquela angústia de sonhar mais que até para si calam...

O palácio está em ruínas... Dói ver no parque o abandono
Da fonte sem repuxo... Ninguém ergue o olhar da estrada
E sente saudade de si ante aquêle lugar-outono...
Esta paisagem é um manuscrito com a frase mais bela cortada...

A doida partiu todos os candelabros glabros,
Sujou de humano o lago com cartas rasgadas, muitas...
E a minha alma é aquela luz que não mais haverá nos
candelabros...
E que querem ao lago aziago minhas ânsias, brisas fortuitas?...

Por que me aflijo e me enfermo?...Deitam-se nuas ao luar
Tôdas as ninfas... Veio o sol e já tinham partido...
O teu silêncio que me embala é a idéia de naufragar,
E a idéia de a tua voz soar a lira dum Apolo fingido...

Já não há caudas de pavões tôdas olhos nos jardins de outrora...
As próprias sombras estão mais tristes...Ainda
Há rastros de vestes de aias (parece) no chão, e ainda chora
Um como que eco de passos pela alamêda que eis finda...

Todos os ocasos fundiram-se na minha alma...
As relvas de todos os prados foram frescas sob meus pés frios...
Secou em teu olhar a idéia de te julgares calma,
E eu ver isso em ti é um pôrto sem navios...

Ergueram-se a um tempo todos os remos...pelo ouro das searas
Passou uma saudade de não serem o mar...Em frente
Ao meu trono de alheamento há gestos com pedras raras...
Minha alma é uma lâmpada que se apagou e ainda está quente...

Ah, e o teu silêncio é um perfil de píncaro ao sol!
Tôdas as princesas sentiram o seio oprimido...
Da última janela do castelo só um girassol
Se vê, e o sonhar que há outros põe brumas no nosso sentido...

Sermos, e não sermos mais!... Ó leões nascidos na jaula!...
Repique de sinos para além, no Outro Vale... Perto?...
Arde o colégio e uma criança ficou fechada na aula...
Por que não há de ser o Norte e Sul?... O que está descoberto?...

E eu deliro... De repente pauso no que penso...Fito-te...
E o teu silêncio é uma cegueira minha...Fito-te e sonho...
Há coisas rubras e cobras no modo como medito-te,
E a tua idéia sabe à lembrança de um sabor de medonho...

Para que não ter por ti desprêzo? Por que não perdê-lo?...
Ah, deixa que eu te ignore...O teu silêncio é um leque ---
Um leque fechado, um leque que aberto seria tão belo, tão belo,
Mas mais belo é não o abrir, para que a Hora não peque...

Gelaram tôdas as mãos cruzadas sôbre todos os peitos....
Murcharam mais flôres do que as que havia no jardim...
O meu amar-te é uma catedral de silêncio eleitos,
E os meus sonhos uma escada sem princípio mas com fim...

Alguém vai entrar pela porta...Sente-se o ar sorrir...
Tecedeiras viúvas gozam as mortalhas de virgens que tecem...
Ah, o teu tédio é uma estátua de uma mulher que há de vir,
O perfume que os crisântemos teriam, se o tivessem...

É preciso destruir o propósito de tôdas as pontes,
Vestir de alheamento as paisagens de tôdas as terras,
Endireitar à fôrça a curva dos horizontes,
E gemer por ter de viver, como um ruído brusco de serras...

Há tão pouca gente que ame as paisagens que não existem!...
Saber que continuará a haver o mesmo mundo amanhã --- como

nos desalegra!...
Que o meu ouvir o teu silêncio não seja nuvens que atristem
O teu sorriso, anjo exilado, e o teu tédio, auréola negra...

Suave, como ter mãe e irmãs, a tarde rica desce...
Não chove já, e o vasto céu é um grande sorriso imperfeito...
A minha consciência de ter consciência de ti é uma prece,
E o meu saber-te a sorrir é uma flor murcha a meu peito...

Ah, se fôssemos duas figuras num longínquo vitral!...
Ah, se fôssemos as duas côres de uma bandeira de glória!...
Estátua acéfala posta a um canto, poeirenta pia batismal,
Pendão de vencidos tendo escrito ao centro êste lema --- Vitória!

O que é que me tortura?... Se até a tua face calma
Só me enche de tédios e de ópios de ócios medonhos...
Não sei...Eu sou um doido que estranha a sua própria alma...
Eu fui amado em efígie num país para além dos sonhos...

Fernando Pessoa

Ouvi esse poema declamado no blog da Maravilhosa Joyce Domingos do blog HORAS ABSURDAS (http://joycepretah.blogspot.com/) que hoje completa dois anos de blog.

PARABÉNS, LINDA MOÇA ENCANTADA!!! Aprendo muito contigo, sempre...

Esse poema veio a calhar hoje em minha história...em minha Hora Absurda de vida...

sábado, 21 de agosto de 2010

SEMPRE MEU MENINO...


Sim, quis ver você partir

se quebrar em mil pedaços

mil faces

para que eu pudesse recolher

uma a uma

acariciar junto ao meu colo

amalgamar com minha saliva

meu pouco pudor

nenhum pudor

mas não foi possível te ver partir

Não sem dor...

Então volta, Meu Menino

Te quero ainda mais

também agora por saber

a falta que você me faz.



Lou Albergaria querendo reabrir o ciclo

quinta-feira, 19 de agosto de 2010

HOJE O POETA NÃO TEM SONHO PRA SONHAR...


Hoje eu sou a criança

que deixei o pirulito cair ao chão

sobre a areia e lama

sem cama

beijo nem doce, nem amargo

estalado, metafísico

molhado

baba morna

me adornando o juízo

prisioneira, refém

de quem eu sou

quando penso em você

no sonho que eu rabisco

quando te atiço

e do pesadelo em que acordo

quando você me dá um beliscão

as costas

e me diz: não!

Tuas letras olham-me

na hora do nada feito ainda

afastam-se

para que outra história

possa ser contada

nessa Saga dos Meninos.


Pelo menos, esta noite, eu não tenho motivo

para morrer por ninguém.


Você não é ave de rapina

mas me roubou quem eu sou, era,

quando sonhava você meu sonho...



Lou Albergaria fechando um ciclo hoje.

domingo, 15 de agosto de 2010

SABER-ME ÁRVORE...


NÃO SEI QUEM SOU.

MAS, SE SOUBESSE,
QUERIA SABER-ME ÁRVORE
TRONCOS RETORCIDOS
ABRIGAM MUITOS GALHOS E FOLHAS
FABRICA SEU PRÓPRIO ALIMENTO
PRECISA APENAS DA NATUREZA PARA EXISTIR.
ÁGUA, LUZ E TERRA...

NÃO PRECISA SER AMADA
COMPREENDIDA OU ACARINHADA
QUANDO PODADA VOLTA AINDA MAIS FORTE
REVIGORADA,

EXUBERANTE ABRIGO PARA OS NINHOS DOS PÁSSAROS

OFERECENDO SEUS FRUTOS AOS QUE TÊM FOME DE VIDA
OXIGÊNIO AOS QUE ESTÃO SEM AR, SEM LUGAR
SUFOCADOS, ESQUECIDOS DO QUE É AMAR
E SEREM AMADOS.
SER SOMBRA PARA OS QUE ESTÃO TÃO CANSADOS
DESABRIGADOS

INSANO CONFLITO
SER O QUE SOU OU O QUE ESPERAM QUE EU SEJA?

AH, EU DESISTO.

E O MELHOR DE SER ÁRVORE
É QUE ATÉ OS EXCREMENTOS DO MUNDO
AINDA LHE SERVEM DE ALIMENTO.

Lou Albergaria in

O COGUMELO QUE NASCE NA BOSTA DA VACA PROFANA

sábado, 14 de agosto de 2010

SOY UNA PUTA DE MERDA?!!!


E O QUE TENS COM ISTO, TCHÊ?!!!



"...Nas noites de frio é melhor nem nascer
Nas de calor, se escolhe: é matar ou morrer
E assim nos tornamos brasileiros
Te chamam de ladrão, de bicha ( puta), maconheiro
Transformam o país inteiro num puteiro
Pois assim se ganha mais dinheiro

A tua piscina tá cheia de ratos
Tuas idéias não correspondem aos fatos
O tempo não pára..." CAZUZA

sexta-feira, 13 de agosto de 2010

O TEMPO BRINCA ...


O Meu rosto não é Meu.
O meu rosto pertence ao Tempo
Que é como uma criança levada
Insubordinada
Rebelde , curiosa
Pega os brinquedos
E os desmonta para ver do que são feitos
Ou se há alguma coisa lá dentro.
Assim, como uma criança audaz
Provocadora, subversiva

O tempo desforma os brinquedos.

Alguns sem legítima intenção
Apenas por acidente.
Outros, entretanto, é por puro deleite
Talvez o prazer de ouvir
O brinquedo trincar
Se esfacelar

“Eu não gostava dele mesmo...”

Ou simplesmente porque quer reinventar
Reciclar
Remodelar
Fazer algo inusitado
Absolutamente Seu;
Que ninguém possa ter outro igual ou parecido.

RUGAS SÃO ÚNICAS!

São como impressões digitais.

Observo muito a Velhice.
Talvez por temê-la
Talvez por idolatrá-la
E, por isso, atrevo-me a adivinhar

Nenhuma ruga em você é igual a de outra pessoa.

Cada um imprime sua personalidade às próprias rugas.

Há pessoas que esticam tanto as suas
que ficam com aquela cara de “Barbie Desbeiçada”
Mas as rugas continuam lá,
Só que esticadas..

E quanto mais se esticam as rugas
Mais se perde a identidade
Pois apega-se a uma ilusão de juventude
Como se o Ser desejasse ficar estagnado;
Almejando desesperadamente
Que o beija-flor
De súbito
Parasse de bater suas asas
E ficasse estático no ar
Sem cair
Zombando da Natureza.

Envelhecer com dignidade está cada vez mais raro.

Os rostos estão se tornando tão iguais
Parecendo recém-saídos da forma.

Quase sempre
Recebo algum email ridicularizando as rugas
Mostrando Brigitte Bardot antes e agora.

Ah, como considero ridículas essas pessoas!!!
Estão rindo delas mesmas
E fazendo-me admirar Brigitte ainda mais
Por dar ao Mundo da superficialidade
Mais essa lição de caráter,
Humildade, sensatez
E, sobretudo, dignidade.

Se é o “meu” rosto que queres
Pode tomar-lhe
É todo seu.

Imprima-o
Coloque na moldura
Mande embalsamá-lo
Para que exatamente assim
Seja eternamente seu.

O rosto que é o meu rosto
É aquele que o tempo me concede
A todo instante
O rosto que resiste às horas
Clama por sol, chuva
Ventania.

Um rosto sem artifícios, maquiagem,
Estética de tecnologia avançada.

O tempo gosta de brincar com ele com carinho.

Talvez seja porque também gosto de brincar com ele; o Tempo.

Somos bons companheiros de estripulias
Algazarras
Sinto que somos verdadeiros amigos
Não usamos máscaras.

Vai ver é por isso que ele cuide tão bem de mim
E eu ria tanto dele.

SOMOS DUAS CRIANÇAS DESAFORADAS!!!
Lou Albergaria in PESSOAS e ESQUINAS

quarta-feira, 11 de agosto de 2010

OLHOS & VERSOS


Tua poesia de Olhos & Versos

encantam

seduzem

Montanhas e Dunas atravesso

Mergulho nesse Teu Mar

Do Ceará

para poder ler-te

mais de perto

ir além das entrelinhas

...uma longa viagem

que me liberta.

Poeta triste

é feito sêmen que não fecunda

caído ao chão:

faz nascer diabos

em forma de versos

Letras de canção;

Ou viram estrelas, nuvens

no Céu Aberto de tua boca

que neste instante

Só me deixa Muda.


Para o lindo amigo escritor e poeta muito querido do Ceará


Poema feito para o FÁBRICA DE LETRAS - Desafio de Agosto/2010

"...uma longa viagem." Entrem no link do título para lerem mais textos e poesias com esse tema de outros autores.

domingo, 8 de agosto de 2010

O TEMOR DO aMOR


O aMOR ME TEME

METO ENTÃO A TREMA

TORNO-ME OBSOLETA

sexta-feira, 6 de agosto de 2010

Verso Para Amar...


Penso em você
rabisco inebriada
um sonho



Tela: Vino Morais

quarta-feira, 4 de agosto de 2010

O POETA NÃO DORME


O Sonho me acorda
do pesadelo dessa realidade
na qual eu não durmo.

Por que os poetas não dormem?

Acaso será o medo
de não lembrar o verso?

Mas e quando o verso se esquece dele?

É quando a vida não lembra mais Nada...
Nem de ti.

***


Não busco fama nem glória, apenas não quero Morrer antes da hora marcada. Engana-se quem pensa que me exibo no picadeiro para aparecer de forma narcisista. Não se escolhe derramar versos, simplesmente acontece...

terça-feira, 3 de agosto de 2010

A Perfect Circle - The Outsider (live)


O Forasteiro


Ajude-me se você puder
E, este não é o jeito
pelo qual estou ligado
Você poderia por favor,
Ajudar-me a entender por que
Você se entrega a todos esses
Desejos sombrios e irresponsáveis

Você está mentindo para si mesma de novo
Estúpida suicida
Pense um pouco, coloque as coisas às claras
O que vai ser necessário para vossa preciosidade
se tocar e atravessar isso.
Por que você quer jogar Isso fora dessa forma?
Tamanha bagunça.
Eu não quero ficar vendo você...

Desconecte e auto-destrua
uma bala por vez
Qual a sua pressa agora,
todo mundo terá o seu dia de morrer

Medicada,
rainha do drama,
cena perfeita, hostilidade vazia
Narcisista,
rainha do drama,
procurando a fama e toda sua decadência

Passando através de seus dentes
Estúpida suicida
Pense um pouco, coloque as coisas às claras
O que vai ser necessário para vossa preciosidade
se tocar e atravessar isso.
Por que você quer jogar isso fora dessa forma?
Tamanha bagunça.
Eu não vou ficar vendo você...

Desconecte e auto-destrua
uma bala por vez
Qual a sua pressa agora,
todo mundo terá o seu dia de morrer

Eles estavam certos sobre você...
Eles estavam certos sobre você...

Mentindo para mim novamente
Estúpida suicida
Pense um pouco, coloque as coisas às claras
O que vai ser necessário para vossa preciosidade
se tocar e atravessar isso.
Por que você quer jogar isso fora dessa forma?
Tamanha bagunça,
chegou a esse ponto, chegou a esse ponto...

Desconecte e auto-destrua
Uma bala por vez
Qual a sua pressa agora,
todo mundo terá o seu dia de morrer

Se você escolher apertar o gatilho, talvez seu
Drama se prove verdadeiro
Faça isso bem longe daqui...

domingo, 1 de agosto de 2010

El Niño...


No nosso Ninho

O Amor Espera

A Hora de Me Parir

sábado, 31 de julho de 2010

SIMPLESMENTE MULHER...


SÓ UMA LINHA

AS CURVAS ABRAÇA

NASCE UMA MULHER

sexta-feira, 30 de julho de 2010

Zélia Duncan - Milágrimas



Letra>: Alice Ruiz Música: Itamar Assunção


Milágrimas


Em caso de dor ponha gelo
Mude o corte de cabelo
Mude como modelo
Vá ao cinema dê um sorriso
ainda que amarelo,
Esqueça seu cotovelo
Se amargo foi já ter sido
Troque já esse vestido
Troque o padrão do tecido
Saia do sério deixe os critérios
Siga todos os sentidos
Faça fazer sentido
A cada mil lágrimas sai um milagre

Caso de tristeza vire a mesa
Coma só a sobremesa
coma somente a cereja
Jogue para cima faça cena
Cante as rimas de um poema
Sofra penas viva apenas
Sendo só fissura ou loucura
Quem sabe casando cura
Ninguém sabe o que procura
Faça uma novena reze um terço
Caia fora do contexto
invente seu endereço
A cada mil lágrimas sai um milagre

Mas se apesar de banal
Chorar for inevitável
Sinta o gosto do sal do sal do sal
Sinta o gosto do sal
Gota a gota, uma a uma
Duas três dez cem mil lágrimas sinta o milagre
A cada mil lágrimas sai um milagre

quinta-feira, 29 de julho de 2010

O PAU por FERNANDA YOUNG


"O nono romance da escritora, roteirista e apresentadora de tv, Fernanda Young, já chama atenção pelo título e pela foto na capa. Intitulado de O Pau, o livro traz através da personagem Adriana toda a relação feminina e também de toda a sociedade com o símbolo máximo da masculinidade, o pau. Através das experiências vividas pela personagem ela questiona esse culto e essa necessidade de afirmação masculina pelo seu órgão genital. Com os pensamentos e argumentos de Adriana fica evidente a relação conflitante entre homens e mulheres. Do quanto uma mulher pode ficar cega por um homem ou quanto um homem é capaz de pensar só com a cabeça de baixo muitas vezes. Todos esses mitos e verdades que envolvem um relacionamento na nossa sociedade moderna.
Fernanda Young consegue traduzir e mapeiar de certa maneira essas tribos e estilos de pessoas que acham e vivem uma vida toda baseada na cultura do belo, da banalização do sexo e da sexualidade. E entre passagens engraçadas e dramáticas fica evidente temas importantes como o preconceito de relacionamentos com grandes diferenças de idade, o aborto, inseguranças com a própria beleza, com a vida e principalmente com o amor. Fica claro no livro que cada vez mais nos julgamos modernos, pra frente e sem encanações com nada, mas no fim estamos todos no mesmo barco furado, na vala comum, cheio de incertezas e inseguranças e em busca de algo cada vez mais raro nos dias de hoje. De achar o príncipe encantado, a garota ideal, que na verdade pode existir ou não. Questões que passam pela confiança, respeito e amor sem as amarras que o mundo moderno nos oferece de bandeja.
Não chega a ser o melhor livro da Fernanda, como por exemplo Vergonha dos pés mas é um livro onde tanto homens e mulheres de alguma maneira vão se ver ou vão ver amigos, parentes, conhecidos e desconhecidos de alguma maneira retratados ali.


Tiago Mistura é radialista e webdesigner. Já fez parte da banda Stella Art (www.myspace.com/stellaart1), que tocava músicas próprias voltadas ao pop rock e hoje escreve para o Mais Palavras (link na barra lateral).

quinta-feira, 22 de julho de 2010

DO SILÊNCIO...


Quero tanto
com poucas palavras
Nenhuma palavra
fazer poesia
de silêncio
Escrever no vento
letras fortes
feitas de pedras
lançá-las longe
jogar fora a inspiração
livrar-me da sina maldita
de ser poeta
desdita
A sina de ser Eu.

Eu quero ser Outra
Eu quero calar!


Pintura: Edvard Munch - O Grito

Sobre esse quadro Munch escreveu nas linhas de seu DIÁRIO:


"Passeava com dois amigos ao pôr-do-sol – o céu ficou de súbito vermelho-sangue – eu parei, exausto, e inclinei-me sobre a mureta– havia sangue e línguas de fogo sobre o azul escuro do fjord e sobre a cidade – os meus amigos continuaram, mas eu fiquei ali a tremer de ansiedade – e senti o grito infinito da Natureza."

Belíssimos HAIKAIS

Consegui este vídeo no lindo blog NOSSO HAIKAI: http://nossohaikai.blogspot.com/

Vale a pena conferir o vídeo e o blog! Sou suspeita pra falar, pois sinto verdadeira adoração por haikai, tal qual sinto pelos origamis, bem como os bonsais e a Filosofia do Oriente (Taoísmo, Budismo, Bhagavad Gita e mais uma infinidade de Conhecimento e Sabedoria) . A Cultura Oriental me encanta profundamente. Espero que também me ENSINE bastante tudo que ainda preciso aprender para evoluir pessoal e espiritualmente.

BEIJOS!!!!! Boas reflexões a todos ao lerem esses belíssimos haikais...

domingo, 18 de julho de 2010

DISPAROU O Tempo E NÓS Também...

Contagem regressiva para mais um aniversário: Só uma semana para 27 de Julho. VEM NI MIM 41!!!!! O TEMPO DISPAROU E ME COME GOSTOSO E EU GOSTO.... sem ruga, sem peito caído, sem hipocrisia na alma e na face. Vai ver é por isso que o tempo me saboreia em 'banho-maria' ou 'banho de gato', às vezes, e me faz gostar e gozar, ser alegre e triste ao mesmo tempo, sem medo e com muito medo de SER e VIVER, mas sem nunca perder de vista quem eu sou de verdade. Por isso, posso até me dar ao luxo de vez em quando não querer ser eu... querer

ME REINVENTAR!!!

O Tempo não para! Ele sabe ser cruel muitas vezes, sobretudo com quem não mostra sua verdadeIra CARA; mas, se pedir com jeitinho e carinho, ele para sim, até nina as horas num balanço doce, aconchegante e quente... te oferece um beijo, um afago, faz um carinho na tua pele, te deixa arrepiada e passa porque é pra isso que ele existe, precisa cumprir sua sina, sua função. Coitado de quem chama o Tempo pra briga. Não... O Tempo você tem que tratar com carinho, ternura, mas sem apego em demasia pelo o que você já foi um dia. O Tempo obriga-nos a desenvolver nossa percepção e criatividade, descobrir novas formas de ver o Mundo e de nos mostrarmos ao Mundo. Chega uma hora que o senso estético da elegância nos proíbe de usar uma minissaia de um palmo, mesmo continuando a ter pernas deliciosas e bem torneadas. É que o Tempo apura nossa estética da necessidade de autoafirmação. Pra que exibir pernas e peitos numa vitrine, tal qual uma bisteca no açougue? Não. Isso é para a juventude e todos os seus medos e inseguranças e sobretudo a vontade de ver e ser visto. Quando chegamos a determinada idade não sentimos mais tanta vontade de exposição; alguns pelo menos. Se bem que nessa Era BBB as lentes nos invadem o tempo todo e nós invadimos as lentes também, não é mesmo? Estar neste exato minuto escrevendo neste blog é uma característica irrefutável dos efeitos dessa Era. A Era de transição para o NOVO AEON - Era de Aquarius - a tão sonhada e almejada conquista do ser humano pela PAZ e HARMONIA de forma absoluta; o respeito à liberdade e individualidade de cada UM e a PLENA CONSCIÊNCIA DA UNICIDADE:

Se você se corta,

Sinto sua Dor.

A maturidade traz muitas conquistas, ainda que a Era de Aquarius não tenha se instaurado em definitivo. Traz perdas? Sim;claro que sim. Todo dia perdemos quem já não somos mais e ganhamos quem desejamos ser. Isso é a suprema CONDIÇÃO DA EXISTÊNCIA HUMANA. Estamos sempre em moblidade, dinamismo, nada se estabiliza nunca, ainda bem. Sinal que estamos vivos. O Ser estável é o Ser Morto! Mesmo que ainda respire e esteja tecnicamente vivo, mas é alguém que na verdade é ninguém, pois não está em busca de nada, pensa que já encontrou tudo. Então, acaba o processo de Evolução. Como que alguém que já é 'TUDO' pode evoluir? Só se for para debaixo da terra.

Eu, como tenho plena consciência do longo caminho que me espera e o qual trilho neste instante, estou em franco processo de EVOLUÇÃO e até mesmo de TRANSMUTAÇÃO, poderia acrescentar. Não a mesma transmutação que faz lagarta virar borboleta, pois não quero dexar de ser EU. Quero continuar lagarta mesmo; viver só por mais 24 horas?!! Tô fora!!! Mas quero ser uma lagarta de bem com a Vida, o Mundo, as pessoas, o meu trabalho, minha família, amigos, colegas, ENFIM, quero aprender todos os dias ser um SER HUMANO melhor para o Mundo a minha volta, mas sobretudo, para MIM MESMA.

O Tempo não para e não deve mesmo parar; e muito menos NÓS. Temos muito ainda para aprender, desenvolver, evoluir... SER.

O TEMPO NÃO PARA

(Cazuza, Arnaldo Brandão)


Disparo contra o sol
Sou forte, sou por acaso
Minha metralhadora cheia de mágoas
Eu sou um cara
Cansado de correr
Na direção contrária
Sem pódio de chegada ou beijo de namorada
Eu sou mais um cara

Mas se você achar
Que eu tô derrotado
Saiba que ainda estão rolando os dados
Porque o tempo, o tempo não pára

Dias sim, dias não
Eu vou sobrevivendo sem um arranhão
Da caridade de quem me detesta

A tua piscina tá cheia de ratos
Tuas idéias não correspondem aos fatos
O tempo não pára

Eu vejo o futuro repetir o passado
Eu vejo um museu de grandes novidades
O tempo não pára
Não pára, não, não pára

Eu não tenho data pra comemorar
Às vezes os meus dias são de par em par
Procurando uma agulha num palheiro

Nas noites de frio é melhor nem nascer
Nas de calor, se escolhe: é matar ou morrer
E assim nos tornamos brasileiros
Te chamam de ladrão, de bicha, maconheiro
Transformam o país inteiro num puteiro
Pois assim se ganha mais dinheiro

A tua piscina tá cheia de ratos
Tuas idéias não correspondem aos fatos
O tempo não pára

Eu vejo o futuro repetir o passado
Eu vejo um museu de grandes novidades
O tempo não pára
Não pára, não, não pára

Dias sim, dias não
Eu vou sobrevivendo sem um arranhão
Da caridade de quem me detesta

A tua piscina tá cheia de ratos
Tuas idéias não correspondem aos fatos
O tempo não pára

Eu vejo o futuro repetir o passado
Eu vejo um museu de grandes novidades
O tempo não pára
Não pára, não, não pára

Post para o FÁBRICA DE LETRAS - Desafio Julho/2010: DISPAROU. Cliquem no link do título e leiam mais textos e poesias com este tema de outros autores.

sábado, 17 de julho de 2010

Ilha das flores - filme curta metragem por Jorge Furtado




O gaúcho Jorge Furtado é diretor de uma das melhores comédias do cinema nacional recente, O Homem Que Copiava, de 2003. Muito antes disso, já era conhecido por uma pequena obra-prima, o premiadíssimo curta-metragem Ilha das Flores – melhor curta em Gramado e Urso de Prata em Berlim. Numa alucinada colagem de imagens, narradas pelo ator Paulo José a partir de um texto de assombrosa objetividade - ainda que por vezes beirando o surreal -, Furtado retrata sucintamente as mazelas da sociedade de consumo.

O senhor Suzuki planta tomates em Porto Alegre. Ele é um bípede, mamífero, possui o telencéfalo altamente desenvolvido e o polegar opositor. É, portanto, um ser humano. Ele vende os tomates no supermercado. Dona Anete, também um ser humano, vende perfumes e, com o dinheiro da venda, compra os tomates do senhor Suzuki e carne de porco para uma refeição da família.

Um dos tomates está estragado e é jogado pela conscienciosa dona Anete no lixo. O refugo vai parar num lixão da capital gaúcha conhecido pelo irônico nome de Ilha das Flores. Nele, um homem compra um terreno e no local cria porcos. Seus funcionários catam no lixo o que pode ser considerado apropriado como alimentação para os porcos. Depois, o dono do terreno deixa entrar aqueles que então poderão escolher a parte que lhes cabe do lixo como alimentação - os seres humanos.

As últimas palavras do roteiro lembram: "O que coloca os seres humanos da Ilha das Flores numa posição posterior aos porcos na prioridade de escolha de materiais orgânicos é o fato de não terem dinheiro nem dono. Os humanos se diferenciam dos outros animais pelo telencéfalo altamente desenvolvido, pelo polegar opositor e por serem livres. Livre é o estado daquele que tem liberdade. Liberdade é uma palavra que o sonho humano alimenta, que não há ninguém que explique e ninguém que não entenda."

A Ilha das Flores não é uma ficção. Existe, e fica na margem esquerda do Rio Guaíba, a poucos quilômetros de Porto Alegre, a céu aberto. Assim como existem as circunstâncias descritas por Furtado, que escolheu uma ficção para descrevê-las.

O diretor disse ter entre suas influências no curta o escritor americano Kurt Vonnegut Jr. (um ídolo dos hippies), o diretor francês Alan Resnais (e, em especial, seu filme Meu Tio da América) e a enciclopédia Conhecer. Certamente encontra-se nele, também, a influência do cineasta americano e membro do grupo Monty Python, Terry Gilliam, e suas vinhetas animadas para antológico seriado Flying Circus.

Seja lá de onde for que o telencéfalo de Furtado tirou suas ideias, Ilha das Flores poderia e deveria ser matéria curricular, por registrar de forma didática e engajante uma realidade que, ao final, deixa um gosto amargo e funciona como um poderoso alerta: "gente é pra brilhar, não pra morrer de fome"(Caetano).

Texto de José Eduardo Mendonça

do site http://www.planetasustentavel.abril.com.br/

Verso destacado no texto de autoria de Cecília Meireles


quarta-feira, 14 de julho de 2010

UM ANJO QUER FALAR...


A noite sonha
Eu não acordo
Você desperta em Mim.
Pintura: Adolfo Payés

CARTA DE QUINTANA AO POETA NOVATO


Meu caro poeta,

Por um lado foi bom que me tivesses pedido resposta urgente, senão eu jamais escreveria sobre o assunto desta, pois não possuo o dom discursivo e expositivo, vindo daí a dificuldade que sempre tive de escrever em prosa. A prosa não tem margens, nunca se sabe quando, como e onde parar. O poema, não; descreve uma parábola traçada pelo próprio impulso (ritmo); é que nem um grito. Todo poema é, para mim, uma interjeição ampliada; algo de instintivo, carregado de emoção. Com isso não quero dizer que o poema seja uma descarga emotiva, como o fariam os românticos. Deve, sim, trazer uma carga emocional, uma espécie de radioatividade, cuja duração só o tempo dirá. Por isso há versos de Camões que nos abalam tanto até hoje e há versos de hoje que os pósteros lerão com aquela cara com que lemos os de Filinto Elísio. Aliás, a posteridade é muito comprida: me dá sono. Escrever com o olho na posteridade é tão absurdo como escreveres para os súditos de Ramsés II, ou para o próprio Ramsés, se fores palaciano. Quanto a escrever para os contemporâneos, está muito bem, mas como é que vais saber quem são os teus contemporâneos? A única contemporaneidade que existe é a da contingência política e social, porque estamos mergulhados nela, mas isto compete melhor aos discursivos e expositivos , aos oradores e catedráticos. Que sobra então para a poesia? - perguntarás. E eu te respondo que sobras tu. Achas pouco? Não me refiro à tua pessoa, refiro-me ao teu eu, que transcende os teus limites pessoais, mergulhando no humano. O Profeta diz a todos: "eu vos trago a verdade", enquanto o poeta, mais humildemente, se limita a dizer a cada um: "eu te trago a minha verdade." E o poeta, quanto mais individual, mais universal, pois cada homem, qualquer que seja o condicionamento do meio e da época, só vem a compreender e amar o que é essencialmente humano. Embora, eu que o diga, seja tão difícil ser assim autêntico. Às vezes assalta-me o terror de que todos os meus poemas sejam apócrifos!

Meu poeta, se estas linhas estão te aborrecendo é porque és poeta mesmo. Modéstia à parte, as disgressões sobre poesia sempre me causaram tédio e perplexidade. A culpa é tua, que me pediste conselho e me colocas na insustentável situação em que me vejo quando essas meninas dos colégios vêm (por inocência ou maldade dos professores) fazer pesquisas com perguntas assim: "O que é poesia? Por que se tornou poeta? Como escrevem os seus poemas?" A poesia é dessas coisas que a gente faz mas não diz.

A poesia é um fato consumado, não se discute; perguntas-me, no entanto, que orientação de trabalho seguir e que poetas deves ler. Eu tinha vontade de ser um grande poeta para te dizer como é que eles fazem. Só te posso dizer o que eu faço. Não sei como vem um poema. Às vezes uma palavra, uma frase ouvida, uma repentina imagem que me ocorre em qualquer parte, nas ocasiões mais insólitas. A esta imagem respondem outras. Por vezes uma rima até ajuda, com o inesperado da sua associação. (Em vez de associações de ideias, associações de imagem; creio ter sido esta a verdadeira conquista da poesia moderna.) Não lhes oponho trancas nem barreiras. Vai tudo para o papel. Guardo o papel, até que um dia o releio, já esquecido de tudo (a falta de memória é uma bênção nestes casos). Vem logo o trabalho de corte, pois noto logo o que estava demais ou o que era falso. Coisas que pareciam tão bonitinhas, mas que eram puro enfeite, coisas que eram puro desenvolvimento lógico (um poema não é um teorema) tudo isso eu deito abaixo, até ficar o essencial, isto é, o poema. Um poema tanto mais belo é quanto mais parecido for com o cavalo. Por não ter nada de mais nem nada de menos é que o cavalo é o mais belo ser da Criação.

Como vês, para isso é preciso uma luta constante. A minha está durando a vida inteira. O desfecho é sempre incerto. Sinto-me capaz de fazer um poema tão bom ou tão ruinzinho como aos 17 anos. Há na Bíblia uma passagem que não sei que sentido lhe darão os teólogos; é quando Jacob entra em luta com um anjo e lhe diz: "Eu não te largarei até que me abençoes". Pois bem, haverá coisa melhor para indicar a luta do poeta com o poema? Não me perguntes, porém, a técninca dessa luta sagrada ou sacrílega. Cada poeta tem de descobrir, lutando, os seus próprios recursos. Só te digo que deves desconfiar dos truques da moda, que, quando muito, podem enganar o público e trazer-te uma efêmera popularidade.

Em todo caso, bem sabes que existe a métrica. Eu tive a vantagem de nascer numa época em que só se podia poetar dentro dos moldes clássicos. Era preciso ajustar as palavras naqueles moldes, obedecer àquelas rimas. Uma bela ginástica, meu poeta, que muitos de hoje acham ingenuamente desnecessária. Mas, da mesma forma que a gente primeiro aprendia nos cadernos de caligrafia para depois, com o tempo, adquirir uma letra própria, espelho grafológico da sua individualidade, eu na verdade te digo que só tem capacidade e moral para criar um ritmo livre quem for capaz de escrever um soneto clássico. Verás com o tempo que cada poema, aliás, impõe sua forma; uns, as canções, já vêm dançando, com as rimas de mãos dadas, outros, os dionisíacos (ou histriônicos, como queiras) até parecem aqualoucos. E um conselho, afinal: não cortes demais (um poema não é um esquema); eu próprio que tanto te recomendei a contenção, às vezes me distendo, me largo num poema que vai lá seguindo com os detritos, como um rio de enchente, e que me faz bem, porque o espreguiçamento é também uma ginástica. Desculpa se tudo isso é uma coisa óbvia; mas para muitos, que tu conheces, ainda não é; mostra-lhes, pois, estas linhas.

Agora, que poetas deves ler? Simplesmente os poetas de que gostares e eles assim te ajudarão a compreender-te, em vez de tu a eles. São os únicos que te convêm, pois cada um só gosta de quem se parece consigo. Já escrevi, e repito: o que chamam de influência poética é apenas confluência. Já li poetas de renome universal e, mais grave ainda, de renome nacional, e que no entanto me deixaram indiferente. De quem a culpa? De ninguém. É que não eram da minha família.

Enfim, meu poeta, trabalhe, trabalhe em seus versos e em você mesmo e apareça-me daqui a vinte anos. Combinado?

Mario Quintana

segunda-feira, 12 de julho de 2010

UM AMOR ALUCINADO: Lou Salomé e Rilke



Carta De Rilke a Lou:

Munique, 8 de junho de 1897 Terça- feira

As flores dos campos que trouxe há uma semana de uma manhã maravilhosa há muito estão deitadas entre as grandes folhas de um terno mata-borrão; mas nesta hora em que as contemplo, sorriem-me como uma recordação cheia de graça esforçando-se por parecer alegres como outrora.- Foi uma dessas horas singulares. Horas que são como o coração de uma ilha cingida por densas florescências: para além destas muralhas primaveris, as ondas respiram quase imperceptivelmente, e não se avista um únici barco que venha do passado distante, nem um só que queira continuar para o futuro. O fato de se lhe dever seguir um regresso ao quotidiano não pode esbater estas horas insulares. — Elas permanecem à margem de todas as outras horas, como que vividas ao mais alto nível do ser. Este tipo de existência insular e mais elevada é a meus olhos o futuro de muito poucos.


Uma felicidade toca, floresce ao longe,
Alastra em volta da minha solidão
E procura tecer para os meus sonhos
Um enfeite de ouro.
E ainda que
A minha pobre vida esteja gelada de madrugada
Inquieta e neve dolorosa,
A hora santa virá para ela,
Um dia, da sagrada Primavera......

Desejaria estar já em Dorfen. A cidade é tão ruidosa, estranha. E, nos períodos de maturação interior, nada de estranho deve aflorar as nossas margens. Um dia, daqui a muitos anos, compreenderás completamente tudo o que és para mim. O que é a fonte da montanha para quem está sequioso. E se quem está sequioso é um homem íntegro e agradecido, não vai procurar frescura e força à sua claridade para voltar a partir para o novo sol; sob sua proteção e suficientemente perto para ouvir o seu canto, constrói uma cabana e permanece neste vale pacífico até que os olhos estejam cansados do sol e o seu coração transborde de riqueza e de compreensão. Eu construí cabanas e — permaneço. Minha límpida fonte! Como te estou agradecido. Não quero mais ver flores, céu, sol — a não ser em ti. Tudo é absolutamente mais belo, mais fabuloso, quando o olhas: a flor nas tuas margens, que — sei isso do tempo em que tinha de ver as coisas sem ti — treme de frio no musgo, solitária e terna, reflete-se clara na tua bondade, vibrante, e quase aflora com a sua pequena cabeça o céu que irradia da tua profundeza. E o raio de sol que chega empoeirado e único aos teus limites transfigura-se e multiplica-se em chuva de centelhas nas ondas luminosas da tua alma. Minha límpida fonte. É através de ti que quero ver o mundo, porque, ao mesmo tempo, verei, já não o mundo, mas apenas a ti, a ti, a ti! Tu és o meu dia de festa. Quando em sonhos me junto a ti, tenho sempre flores nos cabelos. Desejaria colocar-te flores nos cabelos. Quais? Nenhuma tem a simplicidade comovente que deveria, nenhuma é suficientemente simples. Em que Maio colhê-las? — Mas creio agora que tens sempre nos cabelos uma grinalda — ou uma coroa... Nunca te vi de outro modo.
Nunca te vi, que não tivesse o desejo de te rezar. Nunca te ouvi, que não tivesse o desejo de acreditar em ti. Nunca te esperei, sem o desejo de sofrer por ti. Nunca te desejei, sem ter também o direito de me ajoelhar à tua frente. Sou para ti como o bastão para o caminhante, mas sem te apoiara. Sou para ti como o cetro é para o rei, mas sem te enriquecer. Sou para ti como a última pequena estrela é para a noite, ainda que a noite mal a distinguisse e ignorasse a sua cintilação.

René


Do livro: "Correspondência Amorosa", Rainer Maria Rilke e Lou Andreas-Salomé, trad. Manuel Alberto, Relógio D'Água Editores,1994, Lisboa.
Na primeira foto: um poema de RILKE para LOU.