"Só uso a palavra para compor meus silêncios"

Manoel de Barros


Eu só tenho usado o silêncio para compor os meus gritos...


Este é pura e simplesmente um espaço na mídia para divulgar meus poemas, contos, crônicas e artigos de opinião, bem como dos meus mestres e mestras da Filosofia e ARTES de um modo geral. Amo ESCREVER, acima de todas as coisas, então faço desse espaço o meu "grito de alerta", sem maiores pretensões...mas sempre com muitas provocações, pois fazem-se necessárias para que não sigamos mansos a trilha da manada direto para o matadouro... Apesar de todas as decepções, eu AINDA creio e amo o ser humano, então vamos lutar todos juntos em UNICIDADE, AMOR E FRATERNIDADE.

sábado, 24 de abril de 2010

E QUEM NÃO SABE OLHAR COM AMOR TEM SER?

Leio sempre em um livro do Manoel de Barros, uns versos do Pe. Antônio Vieira que diz:
"o maior apetite do homem é
desejar ser. Se os olhos veem
com amor o que não é, tem ser."

E exatamente hoje recordo esses versos porque pedi desculpas a alguém por um mal-entendido tolo, idiota, que de tão trivial, nem merece ser explicitado, pois trata-se simplesmente de mais um erro inerente à condição humana; todo ser humano erra, isso é fato. Perfeição é um privilégio apenas para os mortos e os santos. Eu, felizmente, ainda não faço parte da primeira categoria e da segunda, aí que é sem chance mesmo, nem se eu quisesse, e ainda mais que conto com o agravante de não querer, então, estou sempre a cometer meus errinhos básicos e/ou avançados como todo mundo (os normais) que está aqui neste planeta para aprender.

Acredito, de forma veemente, que o ser humano nasce com a missão de se aprimorar e de evoluir em suas capacidades, sobretudo emocionais e espirituais, apesar de não ser muito próxima a nenhuma religião; mas sinto Deus em mim e em todos e em tudo a minha volta e, talvez, por causa disso, não necessito tanto de religião, pois não preciso me RELIGAR a Deus, pois já somos UNO.

E em minha modesta concepção de DEUS, não se religa algo a ela mesma.

Ontem, entretanto, fiquei especialmente entristecida , quando estendi a mão a um amigo (sim, um amigo, pois considero, em princípio, todos um amigo - vejo a aldeia global, na verdade, como uma aldeia fraterna global -) e esse amigo virou-me as costas depois de dizer-me rispidamente:
" toque sua vida que toco a minha
mas longe um do outro...
adeus NOVAMENTE." Fez questão de ser bastante enfático no advérbio, perceberam?

Isso me surpreendeu e chocou-me tanto devido ao excesso de agressividade e intemperança, mas principalmente pelo seu coração estar tão fechado, armado, em combate.

Estranho como o ser humano anda muito arredio, desconfiado, matreiro, suspeitando, quase que o tempo todo, que por trás de qualquer atitude deve haver um ardil, uma mexida de peça para se avançar mais algumas casas até que se chegue ao fim da partida e, para se evitar a vitória do pretenso adversário, então, o melhor a se fazer é "cortar o mal pela raiz", isto é, virar as costas e dizer adeus de forma solene e enfática.

E o pior é que nem posso culpar essa pessoa por agir assim, uma vez que as relações em sociedade, cada vez mais, as sinto como um "chocoalhar de dados" mesmo, uma mudança de peça num tabuleiro quadriculado ou cartas sobre uma toalha verde, fora as que estão guardadas nas mangas das camisas e nos bolsos dos coletes.

É... estamos nos afastando cada dia um pouco mais da verdade dos sentimentos em nossas relações sociais. Que triste e deplorável constatação!

Por trás de tudo parece sempre haver um interesse escuso, meticulosamente calculado e engendrado; nada mais mostra-se absolutamente espontâneo. Até os sorrisos ingenuamente exuberantes, com mais frequencia do que desejaria perceber, parecem que acabaram de ser carimbados ou estilisticamente bem talhados em lábios prontos a proferir palavras já previamente pensadas e articuladas, prevendo-se a próxima jogada como em um jogo de Xadrez ou um simples jogo de Damas.

Não sei porque esses versos do Vieira me vieram à memória. Aí, fiquei a refletir...

Alguém que não se predispõe a amar, perdoar, aceitar as limitações de outro ser humano tem ser?

Alguém que não sabe olhar com amor é um ser?

Pelos versos do Vieira, tudo que é olhado com amor adquire a potencialidade de ser ; mas e aquele que nem sequer sabe olhar com amor?!!!

Será que Vieira também escreveu sobre esse tipo de criatura? Pessoas que não sabem SER porque não sabem olhar com amor?...

Lou