Dizem as más línguas que numa relação muito duradoura mesmo ( mais de 5 anos, pelo menos), abri esse parênteses porque no meu caso, mais de 4 meses, já quebro meu próprio recorde - é tempo a perder de vista -, a paixão tende a definhar, podendo transformar-se em uma "eterna" amizade entre papai e mamãe - até que a morte nos separe ou até que nossos advogados se encontrem para um acordo -.
Uma vez li em uma entrevista da Marília Gabriela, quando se separou do Gianecchini, que o casamento de 8 anos havia acabado, pois ela não suportava mais continuar casada com o "próprio irmão". Achei muito interessante e pertinente essa constatação feita pela Marília, uma mulher 'formadora de opinião', que julgo muito inteligente e com forte impacto na mídia, principalmente depois que resolveu se aventurar pelo universo das artes da interpretação como atriz.
E sempre que observo os casais a minha volta, percebo que depois de um certo tempo, o excesso de carícias e manifestações de carinho e paixão em público vão se tornando cada vez mais raros, até que minguam de vez. Em bodas de prata, então, nem se fale, entram na igreja de mãos dadas ou no salão de festas e , no máximo, um selinho bem do fajuto ou, então, aquele fatídico beijo na testa (socorro!!!).
Não, gente, tudo, menos beijo na testa!!! Prefiro, juro, uma boa sacudida no braço ou então um empurrão mesmo; agora, beijo na testa?!!! Vai dar beijo na testa na mãe dele e olhe lá!
Um casal ( não estou me referindo necessariamente a um homem e uma mulher, ok?), em minha modestíssima opinião, não precisa também ficar se esfregando feito dois adolescentes em plena efervescência de hormônios, é claro que não, ainda mais depois que já se sentem verdadeiramente casados ( li essa expressão no livro da Martha Medeiros - Divã - em que mencionava esses casais que se casam, mas que ainda não se sentem verdadeiramente casados, pois estão se acostumando um ao outro, e paira uma certa insegurança no ar. E só depois que passa essa "insegurança" é que o casal efetivamente se sente casado.)
Bom, pra variar, lá vai eu meter minha colher de pau onde não fui chamada. Penso que o que "mata" a paixão e o tesão nas relações duradouras é justamente quando para de existir essa "insegurança" entre o casal. Em certa medida, acredito eu, é essa insegurança e falta de certeza que deixa a relação menos entediada, menos claustrofóbica, menos uma simples relação de família, como a que temos com nossos pais, filhos, irmãos, primos e sobrinhos, por exemplo. Jamais colocamos em xeque os sentimentos em relação aos nossos parentes consaguineos. Podemos discutir, brigar, apresentar divergências, até em questões bastante delicadas, mas de alguma forma sabemos que aquele sentimento entre parentes é intocável.
E reside exatamente aí o antagonismo do tesão ou paixão, como queiram. Pra mim, tomo ambos os termos como sinônimos, pois um não existe sem o outro; é como boca e beijo, dente e mordida, fome e comida, entendem? Sem paixão não há tesão e vice-versa.
O tesão precisa de instabilidade, mobilidade, volatilidade, senão, a tendência é ir murchando mesmo, tornando-se cada vez mais acostumado, encenado, mecanizado até, no sentido mesmo de se ligar o piloto automático e ir se deixando levar por 20, 30, 40 ou até 50 anos por um casamento institucionalizado, mas que já se tornou muito mais uma "empresa" do que uma relação afetiva e tesuda.
Os mais otimistas em relação ao casamento chamam esse momento do piloto automático - que pode durar uma vida inteira - de verdadeira amizade e cumplicidade; quando o casal, de maneira inequívoca, reúne toda a atenção, força de trabalho e sentimentos para a família e a construção e manutenção do patrimônio agregado ao longo dos anos. Exaustivos anos de trabalho, esforço, empenho, entrega, sacrifícios; tudo em nome da família - "o bem maior que um ser humano pode adquirir na vida", entre tantos outros clichês, mas citarei apenas esse, pois não quero tornar meu texto chato, apenas verossímel-.
Então, troca-se, mesmo que inconscientemente, a paixão, o tesão, pelo BEM MAIOR adquirido ao longo do tempo que são os filhos, netos, bisnetos, casas, carros, etc e tal.
Sinceramente, não sei se é uma boa troca. E nem se é uma má troca, pois nunca ainda precisei fazê-la e espero nunca precisar, mesmo porque me conhecendo da forma que conheço, não faria troca nenhuma. A não ser de parceiro, é claro.
E o tesão sempre a mil ou milhão, depende do dia...
Lou Albergaria
Em tempo: No livro DIVÃ, o casal ao qual mencionei, que efetivamente se sente casado, se separa. E a Mercedes apronta todas... êta, mulher arretada!!!
Beijo a todos! Até a próxima!
Este foi um artigo especialmente feito para o Fábrica de Letras como o desafio de Maio. É só clicarem no título que poderão ler os demais textos e poemas dos outros autores sobre o tema PAIXÃO. Vale a pena...